quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012


E os nossos políticos, tadinhos, cairam no frevo

Comove ver o entusiasmo dos nossos políticos com a frevança carnavalesca. Eles, que até bem pouco tempo pouco ligavam para desfile de muriçoca, mosquito ou tanajura, foram de repente acometidos de uma febre por frevo e axé que nem o doutor mais afamado da medicina contemporânea se atreve a diagnosticar a causa.
No desfile das Muriçocas do Miramar, o mais numeroso e, por isso mesmo, mais cobiçado da cidade, cada um aparecia chamando a atenção. Fantasias coloridas, pinotes desajeitados, requebros fora de hora, acenos espetaculares, afagos inusitados, em suma, um amontoado de trejeitos que causava espanto à massa ignara e manobrada, comovida com tanta demonstração de afeto.
Garanto que se o carnaval durasse até outubro, a pisada ia ser esta, nem que, no final, só restassem os cambitos dos mais velhos e a bunda murcha dos mais novos.
Ainda bem que será só este ano. Ano vindouro, embora com carnaval e Muriçocas, eles, coitados, descansarão o corpo combalido e preferirão os retiros ou os camarotes refrigerados da Marquês de Sapucaí, bem distantes do suor fedorento dessa pobreza incômoda e cada vez mais próximos das bundas roliças, caboclas e mulatas das cariocas.
Mas tudo voltará aos antigamentes em 2014. Eleição de governador é coisa mais graúda, requerendo, por conseguinte, maiores empenhos, demonstrações de afeto mais profundas e gestos melodramáticos mais emocionantes.
Aí as Muriçocas voltarão ao delírio, os desfiles de bairro ganharão mais luz, as Catraias do Valentina voltarão ao estrelato, Araújo pintará os cabelos outra vez, o Roger viverá dias de glamour e as mágoas do ano recente serão de logo esquecidas, porque eleitor pobre é assim mesmo, tem bom coração, esquece rapidamente as ingratidões e se deixa comover com duas tapinhas nas costas, meio quilo de tripa, um corte de tecido e uma dedada naquele canto.
E vamos votar, porque isso também se chama dever cívico.

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